A jovem Clarissa passou a
refletir sobre seus desejos frente à tradição religiosa de seus familiares. Não
se sentia satisfeita. A crença era austera ao extremo.
Várias vezes se pegou pensando
nos dogmas que lhe eram impostos, os quais julgava serem injustos frente à um
Deus de amor, um Pai que a havia criado com tanto desvelo, Pai esse de toda
humanidade, repleto de ternura e de sabedoria.
Será mesmo que Ele era o que os
dirigentes religiosos afirmavam? Por que diziam que ele julgava? Castigava?
Não, segundo as necessidades de Clarissa, o Deus que ela imaginava era o Deus
da compreensão, o maior pai e amigo.
Clarissa desejou buscar um
caminho que poderia conduzi-la a Deus de maneira positiva e sensata. Afinal, se
Ele havia criado todo o maravilhoso universo, repleto de astros, certamente ele
merecia uma definição coerente.
Certa tarde, em que se viu tomada
de estranha angústia, saiu a andar. Caminhou pela avenida que margeava a linda
praia de ondas mansas, acariciadas pela luz do sol. Resolveu entrar numa viela
estreita e após seguir caminhando, encontrou uma construção simples, caiada de
branco, com uma porta de madeira de duas folhas, pintadas de azul. Sobre a
porta, uma placa onde se lia: Centro Espírita Cristão “Chico Xavier”.
Sentiu-se motivada a entrar, o
nome de Chico lhe veio à memória e ela sempre ouvira falar bem dele.
Timidamente entrou. Bancos de
madeira pintados de branco sobre o piso de cimento preenchiam o interior do
pequeno salão. Ao fundo, uma mesa com uma toalha branca contornada por delicada
renda. Sobre a mesa, um vasinho com flores naturais. Ao lado do vaso, copinhos
com água. Na parede atrás da mesa, no alto, três telas a óleo dispostas
horizontalmente: Maria ao meio, ladeada por Jesus e por Chico Xavier. Numa das
paredes laterais, uma tela contendo a figura de Allan Kardec. Na outra parede
lateral um cartaz com os dizeres: Aqui tem amor e paz! Música suave fornecia
serenidade aos presentes.
Clarissa sentiu uma tranquilidade
tão imensa, tão buscada, que as lágrimas afloraram sem que ela conseguisse
detê-las.
Após a música, uma senhorinha de
cabelos encanecidos fez uma linda prece e a seguir foi lido um texto evangélico
por um adolescente. A explanação ficou a cargo de um senhor de meia idade, que
a fez de maneira cativante. Mário, esse era o seu nome. Depois os passes, a
prece de encerramento, a distribuição da água fluidificada... Clarissa não
tinha vontade de ir embora.
Mário, solícito, vendo que
Clarissa era nova no ambiente, aproximou-se, apresentou-se e apresentou-a aos
demais. Em quinze minutos de conversa
agradável, Clarissa sentiu que havia entrado no lugar que sua alma há tanto
buscava.
Passou a frequentar o agradável
recinto, participou dos esclarecedores estudos e tornou-se uma feliz trabalhadora
do Centro Espírita Cristão “Chico Xavier”, onde aprendeu que a crença espírita
não se liga a dogmas, assim como o Deus de um é o Deus de todos. Aprendeu que
Deus não castiga. Sentiu-se consolada ao saber que é a vida que devolve ao ser
humano o produto de seu plantio, pois quem planta o bem, o bem colhe, assim
como quem planta o mal recebe o mal de troco.
Léon Denis estava repleto de razão quando escreveu no livro
Depois da Morte: ... O dogma não exerce atualmente influência alguma sobre a
vida das sociedades. Fatigada dos embaraços em que a tinham envolvido, a alma
humana atirou-se para a luz; despedaçou esses frouxos laços para unir-se aos
grandes Espíritos, que não pertencem a uma seita nem a uma raça determinada,
mas cujo pensamento alumia e aquece a Humanidade inteira.
Maria
Nilceia