domingo, 23 de agosto de 2015

Satisfação Conquistada


A jovem Clarissa passou a refletir sobre seus desejos frente à tradição religiosa de seus familiares. Não se sentia satisfeita. A crença era austera ao extremo.

Várias vezes se pegou pensando nos dogmas que lhe eram impostos, os quais julgava serem injustos frente à um Deus de amor, um Pai que a havia criado com tanto desvelo, Pai esse de toda humanidade, repleto de ternura e de sabedoria. 

Será mesmo que Ele era o que os dirigentes religiosos afirmavam? Por que diziam que ele julgava? Castigava? Não, segundo as necessidades de Clarissa, o Deus que ela imaginava era o Deus da compreensão, o maior pai e amigo.

Clarissa desejou buscar um caminho que poderia conduzi-la a Deus de maneira positiva e sensata. Afinal, se Ele havia criado todo o maravilhoso universo, repleto de astros, certamente ele merecia uma definição coerente.

Certa tarde, em que se viu tomada de estranha angústia, saiu a andar. Caminhou pela avenida que margeava a linda praia de ondas mansas, acariciadas pela luz do sol. Resolveu entrar numa viela estreita e após seguir caminhando, encontrou uma construção simples, caiada de branco, com uma porta de madeira de duas folhas, pintadas de azul. Sobre a porta, uma placa onde se lia: Centro Espírita Cristão “Chico Xavier”.

Sentiu-se motivada a entrar, o nome de Chico lhe veio à memória e ela sempre ouvira falar bem dele.

Timidamente entrou. Bancos de madeira pintados de branco sobre o piso de cimento preenchiam o interior do pequeno salão. Ao fundo, uma mesa com uma toalha branca contornada por delicada renda. Sobre a mesa, um vasinho com flores naturais. Ao lado do vaso, copinhos com água. Na parede atrás da mesa, no alto, três telas a óleo dispostas horizontalmente: Maria ao meio, ladeada por Jesus e por Chico Xavier. Numa das paredes laterais, uma tela contendo a figura de Allan Kardec. Na outra parede lateral um cartaz com os dizeres: Aqui tem amor e paz! Música suave fornecia serenidade aos presentes.

Clarissa sentiu uma tranquilidade tão imensa, tão buscada, que as lágrimas afloraram sem que ela conseguisse detê-las.

Após a música, uma senhorinha de cabelos encanecidos fez uma linda prece e a seguir foi lido um texto evangélico por um adolescente. A explanação ficou a cargo de um senhor de meia idade, que a fez de maneira cativante. Mário, esse era o seu nome. Depois os passes, a prece de encerramento, a distribuição da água fluidificada... Clarissa não tinha vontade de ir embora.

Mário, solícito, vendo que Clarissa era nova no ambiente, aproximou-se, apresentou-se e apresentou-a aos demais. Em quinze minutos de conversa agradável, Clarissa sentiu que havia entrado no lugar que sua alma há tanto buscava.

Passou a frequentar o agradável recinto, participou dos esclarecedores estudos e tornou-se uma feliz trabalhadora do Centro Espírita Cristão “Chico Xavier”, onde aprendeu que a crença espírita não se liga a dogmas, assim como o Deus de um é o Deus de todos. Aprendeu que Deus não castiga. Sentiu-se consolada ao saber que é a vida que devolve ao ser humano o produto de seu plantio, pois quem planta o bem, o bem colhe, assim como quem planta o mal recebe o mal de troco.

Léon Denis estava repleto de razão quando escreveu no livro Depois da Morte: ... O dogma não exerce atualmente influência alguma sobre a vida das sociedades. Fatigada dos embaraços em que a tinham envolvido, a alma humana atirou-se para a luz; despedaçou esses frouxos laços para unir-se aos grandes Espíritos, que não pertencem a uma seita nem a uma raça determinada, mas cujo pensamento alumia e aquece a Humanidade inteira.

Maria Nilceia