Entendo por pureza doutrinária o
fato de praticarmos somente o que aprendemos na doutrina espírita. Muito
importante, se somos espíritas, seguir aquilo que abraçamos. Isso não implica
em alimentar preconceito e atitudes insensatas. Vejamos um exemplo. Toca o telefone
da Sra. Aparecida, palestrante espírita. Eis o diálogo que se estabelece:
-Alô...
-Bom dia... Gostaria de falar com
a Sra. Aparecida.
-Sou eu mesma. Do que se trata?
-Que bom tê-la encontrado, Sra.
Aparecida! Será que a senhora tem um dia disponível para fazer uma palestra no
Centro do qual sou participante? Gostaríamos que a senhora discorresse sobre um
capítulo do Livro dos Espíritos.
-Depende, minha filha, depende...
qual é o Centro?
-Trata-se do Centro de Umbanda
Pai Jacó.
-Filha, sinto muito, eu só falo
em Centros Espíritas seguidores dos ensinos de Allan Kardec. Centro de Umbanda
não é minha praia.
-Bem, então... mesmo assim, muito
obrigada pela atenção.
O diálogo termina por aí.
Aparecida é ferrenha defensora da pureza doutrinária dentro do Espiritismo. E
pensar que a presidente do Centro de Umbanda Pai Jacó estava tentando estimular
os frequentadores do Centro a se entrosarem com o Livro dos Espíritos... Que
chance maravilhosa Aparecida perdeu!
Em Espiritismo, a expressão
pureza doutrinária, vem tomando vulto de forma a provocar preconceito e falta
de solidariedade. Mentes vêm se cristalizando e sem que percebam estão a fugir
dos intentos de Allan Kardec. Posições exclusivistas prejudicam os objetivos
mais puros do Espiritismo, representados pelo amor sem precedentes aos que são
e aos que não são espíritas, compreendendo-os e ajudando-os.
Num livro psicografado por mim, Reforma Íntima, (http://mnilceialivros.blogspot.com.br/2015/09/reforma-intima.html) cujo autor é o espírito Dr. Flávio Pinheiro, ele narra que no plano
espiritual levou um grupo de jovens a assistir uma missa, estimulando-os a
viver a fraternidade em relação a outros credos. A recordação deste fato
relatado no livro me fez lembrar de outro, vivido aqui no Plano Físico mesmo, o
qual narro prazerosamente: um simpático padre da cidade em que moro, há vários
anos, resolveu procurar integrantes das várias religiões. Como espírita que
sou, fui solicitada a recebê-lo em minha residência juntamente com a equipe de
evangelizadoras da paróquia. Foi um encontro bastante positivo. Trocamos ideias
e explicações. Fico hoje a questionar-me: será que os católicos estão evoluindo
mais rapidamente que os espíritas? Devemos refletir sobre posicionamentos
antagônicos e radicais que vêm sendo adotados por alguns espíritas. Não é isso
que Kardec deseja, não é isso que ele ensinou.
No livro Os Dragões, de Maria Modesto Cravo, tendo como médium
Wanderley Oliveira, página 122, lemos palavras que devem ser por nós
assimiladas: “Os próprios espíritas se agredirão para defender uma linha
filosófica de pensamentos. Tomarão o texto de Kardec como uma nova bíblia, como
se ali a doutrina estivesse pronta e acabada, quando o próprio codificador
deixou seus apontamentos como o marco inicial de uma interminável investigação
em assuntos da alma.”
Urge analisar e colocar amor e
caridade nos corações. Boas palavras cabem em qualquer lugar, numa tribuna
espírita ou fora dela.
E aqui vai o vermelho para o fanatismo e para o preconceito.
Maria
Nilceia