No livro O QUE É O ESPIRITISMO, de Allan Kardec, estão contidas respostas importantes e esclarecedoras que ele forneceu às pessoas que comumente lhe dirigiam perguntas. Selecionei um trecho oportuno para nosso aprendizado. Trata-se de uma parte de um diálogo entre um sacerdote e Kardec.
SACERDOTE: Permita, senhor, que lhe dirija algumas perguntas.
ALLAN KARDEC: Com muito prazer. Antes de responder, entretanto, creio ser útil apresentar o terreno em que esperam me colocar para lhe dar resposta. Devo manifestar que não pretendo absolutamente convertê-lo as nossas ideias. Se por acaso as desejar conhecer, poderá encontrá-las nos livros em que estão expostas, onde será fácil estudá-las devidamente. Depois terá liberdade de as repudiar ou as aceitar.
O Espiritismo tem como finalidade combater a incredulidade e suas funestas consequências, provando incontestavelmente a existência da alma e a realidade da vida futura. Destina-se, pois, aos que não creem em nada ou que duvidam. Como sabe, Senhor Padre, o número destes não é pequeno; todavia, os que têm fé religiosa e aqueles a quem esta fé satisfaz, dele não precisam.
Ao que diz: “Creio na autoridade da Igreja, atenho-me ao que ela ensina e sinto-me satisfeito”, o Espiritismo responde que não cuida de impor-se a ninguém e que não veio para forçar convicções A liberdade de consciência é uma consequência da liberdade de pensamento. Este é um atributo do Homem. O Espiritismo estaria em contradição com seus princípios de caridade e de tolerância se não os respeitasse. Prescreve que toda crença, quando é sincera e não ocasiona prejuízos ao próximo, mesmo, errônea, é digna de respeito.
Se uma pessoa teima em acreditar, por exemplo, que o Sol gira e não a Terra, dir-lhe-emos: “Creia, se lhe agrada, de vez que isso não opõe obstáculos aos movimentos da Terra. Mas note que assim como não procuramos violentar-lhe a consciência, não deve você tentar violentar a consciência alheia. Cada vez que se transforma uma crença, intimamente inofensiva, em elemento de perseguição, torna-se ela nociva e deve ser combatida”.
Tal é Senhor Padre a linha de conduta, que tenho observado para com os ministros dos diferentes cultos que me procuram. Quando me inquirem sobre pontos da doutrina, dou-lhes as explicações necessárias; abstenham-me não obstante de discutir certos dogmas, do que não se deve ocupar o Espiritismo, já que cada um é livre de os julgar. Nunca os procurei, porém, com o intuito deles destruir a fé pela coação.
Aquele que nos veem como irmão, como irmão os recebemos. O que nos despreza, em paz o deixamos. Este é o conselho que não cesso de dar aos espíritas. Nunca incentivei os que se atribuem a missão de converter o clero. Digo-lhes sempre: semeiem no campo dos incrédulos, que nele há messes abundantes acolher.
O Espiritismo não
se impõe porque, como disse, respeita a liberdade de consciência. Compreende
muito bem por outro lado que toda fé imposta é superficial e só oferece a
aparência de fé; nunca é a fé sincera.
Expõe seus princípios aos olhos de toda gente, de modo que possa cada um
formar opinião com conhecimento de causa. Os que os aceitam, leigos ou
sacerdotes, fazem-no livremente, porque os julgam racionais. De nenhuma
maneira, porém, abrigamos rancor contra os que não são de nosso parecer. Se existe uma luta aberta entre a Igreja e o
Espiritismo, não fomos nós que a provocamos. Disso estamos convencidos.
Allan Kardec